Tempo de leitura: menos de 1 minuto
A aprendizagem durante muito tempo se manteve restrita aos espaços escolares e ateliês.
Desde o ensino fundamental ao universitário os ambientes estiveram relacionados a valores como ordem, disciplina e vigilância.
Novos espaços porém, têm surgido, onde o distanciamento da vida exterior não tem mais vez. A liberdade e o uso de novas tecnologias são a base.
Os cursos virtuais
Cursos virtuais têm se mostrado como uma opção que pode ser integrada à rotina particular. Pode-se estudar a qualquer momento e em qualquer lugar. Interrompemos e retomamos a nosso critério.
Qualquer que seja nosso interesse, sempre será possível aprender novos conteúdos ou aprofundar conhecimentos sem passar pelas restrições que o ensino formal exige.
O ambiente escolar
O ambiente escolar e ateliês são espaços separados por um muro, um local fechado dentro de si mesmo e alheio à vida de cada um. Seus muros proporcionam uma sensação de distanciamento, clausura e solidez.
Nos espaços de aprendizagem formal, não é permitido circular livremente. Há um controle de quem está presente ou ausente, cada integrante deve ser facilmente localizado e não deve haver aglomerações.
Cada indivíduo deve permanecer restrito ao espaço que lhe é permitido, vigiado em suas atividades, qualidade e rapidez.
O tempo e o espaço são recortados, há uma sucessão de metas ou atividades a serem cumpridas com horários e intervalos inflexíveis.
O treino segue padrões estabelecidos e tem como objetivo medir qualitativamente o aluno.
Ao professor, cabe o olhar classificador que estipula hierarquias, recompensa e pune. A competição é incentivada, pois cada um deve se comparar permanentemente aos outros e medir seu sucesso ou fracasso.
O que os teóricos dizem sobre o ensino
Gilles Deleuze
Filósofo francês, afirmava que a escola seria semelhante a uma prisão.
Marie Pape-Carpentier
A pedagoga Marie Pape-Carpentier comparou o ensino a um mecanismo onde quem ensina é o agente motor e os alunos, as engrenagens.
Michel Foucault
Michel Foucault, filósofo e professor de história, acreditava que hospitais, asilos, prisões e escolas seguiam o mesmo modelo de vigilância e disciplina. Foucault estudou as instituições disciplinares que apresentavam o modelo panóptico. E este está longe de ter sido descartado em nossa sociedade atual.
O panoptismo foi um conceito de prisão implantado a partir dos séculos XVII e XVIII. As celas de um presídio ficavam dispostas ao redor de uma grande torre, os presos eram vigiados permanentemente por um guarda, mas não podiam vê-lo. O panoptismo permanece em nossa sociedade, onde todos são vigiados, punidos, recompensados e sujeitos a seguir uma série de normas.
Pode parecer extremo relacionar escolas ou nossa vida a tal modelo. Mas quando nos lembramos das câmeras de segurança em todos os corredores, podemos perceber que ser visto o tempo todo sem ver é algo que permanece. Há câmeras nos prédios, ruas, lojas, sempre há alguém com um celular realizando uma filmagem. O modelo panóptico assumiu novas proporções.
Nossa sociedade, com as formas tradicionais de ensino, divide e classifica cada pessoa criando uma dinâmica que induz e produz efeitos, não há o desejo de ressaltar as capacidades de um indivíduo, mas sim de exercer formas de poder e controle, isso é, a manutenção do modelo panóptico. Seja através da massificação ou de um atendimento individual a aprendizagem prossegue de forma que não haja a valorização da singularidade.
A liberdade do ser humano
O ser humano é singular, mas convive no plural. Ou seja, no relacionamento com outros.
A pluralidade permite que cada um possa através de suas ações se revelar em atos e palavras.
A tecnologia não é libertadora, nem uma forma de controle por si só. Seu uso definirá sua posição que tanto poderá ampliar modos panópticos de relação, quanto conceder maior mobilidade e liberdade.
Não há neutralidade, devemos estar conscientes que somos produtores e produtos da sociedade.
A educação deve proporcionar o desenvolvimento da individualidade, para que cada um possa contribuir para o mundo desenvolvendo seus potenciais. O ensino deve promover sempre a liberdade. Diante dessa perspectiva o ensino a distância abre a possibilidade de algo único, que é moldar a aprendizagem às necessidades individuais.
O tempo quem determina é o aluno, logo a necessidade de constante vigilância perde o sentido. O crescimento é fruto de seu próprio trabalho, sem comparações desnecessárias. Não há hierarquização de acordo com rendimentos, mas o estímulo permanente de ampliar habilidades.
Fonte:
- ALMEIDA, Vanessa Sievers de. Educação e liberdade em Hannah Arendt. Universidade de São Paulo.
- BRIGHENTE, Miriam Furlan. INSTITUIÇÕES ESCOLARES. MESQUIDA, Peri – PUCPR.
- GUSTAVO FERREIRA DA SILVA, André. Educação e liberdade: o conceito de liberdade na pedagogia brasileira da década de oitenta.
- FRAGO, Antonio Viñao & Augústin Escolano. Currículo, Espaço e Subjetividade – Do Espaço Escolar e da Escola como Lugar: Propostas e Questões. Tradução Alfredo Veiga-Neto. Rio de Janeiro, Editora DP&A 1998
- FOUCAULT, Michel. VIGIAR E PUNIR. Petrópolis Editora Vozes 2003
- POSSOLLI, Gabriela Eyng. PANOPTISMO COMO DISPOSITIVO DE CONTROLE SOCIAL E EXERCÍCIO DE PODER (PUCPR).