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O ato de desenhar mexe com o desenhista. Vai além da técnica, da perfeição ou da imersão do processo. Tem a ver com o sentimento. Tem a ver com a imagem sendo desenhada.
Por isso, no desenho realista, costuma-se escolher referências que tenham um certo sentido para a pessoa. Que essa imagem seja um incentivo para o desenhista, uma vez que ficará horas a fio, debruçado sobre um mesmo desenho.
Ora, se nada fizer sentido no processo, o desenho se tornará algo vazio. E será apenas uma cópia.
O que te motiva a desenhar?
Quem faz um desenho realista acaba por, eventualmente, desenhar uma pessoa querida.
É uma forma bastante especial de presenteá-la. Mas o que acontece é que esse retrato não é só um retrato. É algo que levou horas de trabalho, de inspiração, observação e interpretação de sua fisionomia e de seus detalhes.
O retrato desenhado, diferentemente da fotografia, é feito pelas mãos da outra pessoa.
Quando queremos expressar amor, é comum usarmos palavras. Mas nem sempre elas são suficientes para dizer o que sentimos. É aí que entra a arte: na tentativa mais próxima da expressão dos nossos sentimentos.
Desenhar, afinal, é um gesto que se faz, que não se fala.
Por que desenhar quem você ama?
Perguntei à equipe do Charles Laveso sobre o porquê deles desenharem aqueles que amam, e as respostas foram as seguintes:
Samuel Torres:
Bom, eu só desenhei 4 pessoas que amo: meus pais, minha esposa e filha.
Não amo só esses, mas são os que me senti “forçado” a desenhar. Não por obrigação moral, mas pra tentar demonstrar o quanto eles importam pra mim. Para tentar deixar registrado em cada traço, no cuidado aos detalhes e às expressões.
Maíra Poli:
É um motivacional, mexe com a gente, estimula.
Também é uma demonstração de carinho através de algo feito por nós mesmos, uma homenagem.
Desenhamos pessoas que gostaríamos de ser ou que nos inspiram.
Cristina Souza:
A pergunta me fez analisar qual seria a minha motivação para desenhar.
E não, não é o amor nem admiração puramente. Neste tempo de realismo, só desenhei duas pessoas que amo muito. Mas não foi pelo significado do amor simplesmente, pois definitivamente não é isto que me motiva.
Aliás, as pessoas que tenho vínculo prefiro nem desenhar, pois gera uma responsabilidade e uma expectativa que não gosto de sentir.
Lógico que quando eu vejo o quadro na parede dá aquele orgulho sim, mas prefiro amá-las sem desenhos.
O que me motiva na verdade é a imagem. Bater o olho e dizer: nossa, eu ia gostar muito de fazê-la. E pode ser por causa de um olhar, da luz, do contraste, da resolução, de um sentimento que ela me provoca como se fosse a minha alma querendo falar, entende.
Portanto, a maioria dos meus desenhos são de meros desconhecidos, mas recheados de significado.
Charles Laveso, por sua vez, falou que desenhar quem ele ama é tirar o foco do eu e priorizar o outro, olhar o outro. Procurar entender, sentir o que o outro sente, se importar, ouvir, prestar atenção… Afinal, o “outro” é muito importante!
Tudo isso está impresso em um rosto, é tudo isso que queremos captar e transmitir em um desenho.
Quando as outras pessoas olham para algo que fizemos e são capazes de se identificar ali, aí teremos feito arte. Então. não será apenas uma cópia da realidade, mas algo que incite a imaginação em quem observa, sensibilize, faça refletir.
O caminho da excelência é voltar a atenção ao outro, mesmo que isso requeira primeiro olhar para si — conhecer-se e entender-se –, pois usará esse conhecimento obtido de si mesmo como instrumentos para observar o outro. Verá o outro em si mesmo. Sentirá suas dores, suas motivações, aspirações e medos.
Tudo isso está impresso em um rosto. É tudo isso que queremos captar e transmitir, em um desenho.
E você, qual a sua resposta: por que desenhar quem você ama?