No desenho tudo se constrói, não há nada mágico

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Como nos vemos com bons olhos, mas, mesmo assim, nunca nos consideramos capazes de produzir uma pintura como as de Rafael ou cenas dramáticas como as de Shakespeare, convencemo-nos de que a capacidade de fazê-lo é algo extraordinariamente maravilhoso, um acidente incomum, ou, se tivermos inclinação religiosa, uma graça. Assim, nossa vaidade, nosso amor-próprio, promovem o culto do gênio: pois, se o julgarmos muito distante de nós, se o encararmos como milagre, sua falta realmente não nos incomodará (…). Mas a atividade do gênio não parece, em absoluto, muito diferente da atividade do inventor de máquinas, do acadêmico de astronomia ou história, do mestre em táticas. Todas essas atividades são explicáveis quando se conhecem pessoas cujo pensamento é ativo numa direção, que exploram todas as coisas como importantes, que sempre observam com zelo sua própria vida interior e a de outros, que detectam em todos os lugares modelos e incentivos, que nunca se cansam de conjugar os meios disponíveis para si próprias. Os gênios, por mais que façam, primeiro aprendem a juntar tijolos para depois aprender a construir, e sempre buscam materiais ao redor dos quais sejam capazes de desenvolver-se. Todas as atividades humanas são incrivelmente complexas, não só as dos gênios: mas nenhuma é um “milagre”.

Friedrich Nietzsche

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A capacidade do autoengano

Temos a incrível capacidade de nos autoenganar. Cremos firmemente em uma mentira que contamos para nós mesmos. Seja para protegermo-nos da ameaça de exposição do verdadeiro eu, frágil e rude. Seja para mostrar uma versão melhorada de nós mesmos.  

Estamos sempre querendo passar a impressão de sermos melhores do que de fato somos. Escondemos dos outros e acima de tudo, de nós mesmos, a verdade sobre nossas convicções.

Somos fortes e ousados para escondermos a natureza frágil e insegura que em nós habita. Arranjamos desculpas para nosso fracasso. Tiramos de nós mesmos a responsabilidade e elegendo álibis, pois é mais fácil lidar com a expressão — “ah, ele era O Einstein”. Do que encararmos que ele era um simples homem. Que a única coisa que nele se diferenciava da maioria era sua obstinação e persistência.

O mito do gênio

Ele errava, mas abstraia dos erros experiências para posteriores acertos. Buscava à sua volta inspiração e questionava tudo, sobre tudo analisava e refletia.

Uma mente reflexiva é também criadora. Está sempre buscando caminhos para superação dos obstáculos.

E ao longo desse percurso, novas conexões e ideias vão se formando, elevando a mente a um estado de reflexão constante. Até mesmo dormindo continua a trabalhar. Ao despertar, geram ideias e pensamentos. Essa busca incessante é o espírito comum em todos os denominados “gênios”.

Em contrapartida, mentes preguiçosas não criam e não refletem.

Buscam álibis e desculpas para sua inércia. Não se deixam desafiar, preferindo a zona de conforto ou estagnação.

É desse pano de fundo que nascem expressões como: “que sorte você tem”, ou “isso é um dom”, ou ainda “ele é um gênio”.

Porque essa é uma forma confortável de lidarmos com nosso próprio fracasso ou falta de ação e iniciativa. Ao elevar um feito para o nível “mágico”, abstém-se da responsabilidade do eu na possibilidade de tal façanha.

O fato é que gênios são pessoas comuns, mas com aptidões incomuns. A busca incessante por algo é o que os eleva ao patamar de “gênios”. Fora isso não tinham nada de mágico ou sobrenatural que os tenha levado a fazer coisas extraordinárias.

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No desenho e na pintura não é diferente. Não existe nada mágico, mesmo quando um trabalho é tão impressionante que desafia o olhar e a percepção. Acaba trazendo questionamentos sobre como aquilo é possível.

3 atributos necessários para desenvolver a técnica

No desenho e na pintura realistas, assim como em qualquer outra atividade, são 3 os atributos que os fazem possíveis. É um conjunto de habilidades que podem sempre se desenvolver.

1. Compreensão

As habilidades começam com a compreensão. Consiste em entender o conceito. Conhecê-la e entender os materiais e o que cada um produz.

Depois, vem a compreensão da técnica, que é a forma como é aplicado o material usado. Seguido da percepção, que é a capacidade de observação da imagem, percebendo seus tons, formas… E toda a informação que compõe a imagem.

Essa percepção é um modo de decifrar a mensagem visual, quebrando-a e percebendo-a em pequenas partes. É enxergar além do óbvio, deixando de lado as sugestões ou projeções do próprio cérebro. Esvazia-lo e torná-lo inteiramente receptivo a toda informação enviada da retina para o cérebro, como um escaneamento.

Essa percepção é a chave e principal atributo para o êxito no desenho e pintura realistas.

2. Prática

O segundo atributo é a Prática. Após ter compreendido toda a lógica sobre os materiais e sobre a imagem à frente, é hora de colocar tudo o que se vê no papel. É quando o cérebro começa a adestrar a mão para obedecer os comandos e imprimir no papel aquilo que se vê.

Começa-se também a criar maneiras de superar os obstáculos, trazendo caminhos alternativos, que é quando a criatividade entra em cena, testando novas formas de se fazer e misturando materiais. E assim, novas conexões vão se formando, até que com a repetição tudo vai ficando automático, é quando começa-se a desenvolver habilidades no traço, no sombreado e na técnica em geral.

Tudo ocorre naturalmente, sem a necessidade de atuação consciente.

Esse é um estado apropriado e eficiente sujeito a todos os desenhistas, mas que requer cuidado, pois ao habituar-se à percepção e às técnicas desenvolvidas, o cérebro entra em estado de estagnação, em uma zona de conforto, que inibe a evolução. Portanto, é necessário estar constantemente alerta e desafiar-se sempre.

3. Persistência

Por último, e não menos importante, vem a última habilidade, que é a persistência. Essa é a capacidade de prosseguir, de continuar treinando repetida e incessantemente.

Mesmo com obstáculos e dificuldades, o ato de praticar e continuar tentando deve ser constante.

Essa era a principal característica dos que fizeram a diferença, os conhecidos “gênios”. Essa persistência caminha junto com a paciência, que é a capacidade de suportar os longos períodos de labuta que parecem não levar a lugar algum. No mais, traz  convicção de que mesmo não parecendo, os resultados virão. É preciso também paciência consigo mesmo, encarando os erros como estratégias de mudança e superação.

Até na observação da referência a paciência se faz necessária! Um olhar atento deve estar livre de ansiedade ou pressa. O mesmo se aplica ao ato de desenhar ou pintar onde a paciência deve sempre estar presente.

 

Estes são os pilares para o desenho e pintura realistas ou para qualquer outra atividade que se disponha a aprender e progredir. Tudo começa com a apuração da autoconsciência e quebra de paradigmas, seguido da compreensão, da prática e da persistência.

Com isso em mente não existe o impossível e nem há limites. O importante, ainda, é acreditar em si e estar aliado à realidade, sem o véu das desculpas e obstáculos impostos somente por si mesmo, pois, quem acredita e vai atrás, faz acontecer.

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