A paixão que consome o artista

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As biografias, através do cinema e dos livros, mostram a visão do artista. Sempre movido por uma paixão arrebatadora que o faz perder a noção do tempo, passar noites em claro. Dominado por uma força que até mesmo se sobrepõe às suas necessidades básicas!

Existe a intenção de parar, mas uma energia intensa o mantém preso em seu processo criativo. Será que essa força que impulsiona a criação artística é sempre benéfica ou poderá ser destrutiva?

Nesse artigo, irei comentar sobre a visão da Psicologia Analítica e da Psicanálise diante da pulsão artística.

A arte e as pessoas

A arte possui um lado objetivo ligado à forma como o artista se comporta diante do mundo. E se refletirá nas preferências técnicas e compositivas em uma obra.

Também tem um lado impessoal, quando o indivíduo mergulha dentro de si mesmo. Acaba encontrando conteúdos que não estão relacionados à sua vida em particular, mas a toda a humanidade.

A criação pode ter um propósito determinado pela mente do artista que busca através de efeitos, técnica e estilo alcançar o que deseja. Ou pode surgir como um objeto autônomo. Este se impõe como se não fosse possível fazer alterações, de acordo com a sua própria vontade.

A explicação para esse tipo de ocorrência está relacionada ao tipo de personalidade que cada pessoa possui. Ligada a fatores de introversão e extroversão.

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Pessoas introvertidas precisam afirmar a sua intenção e domínio sobre o objeto. Por outro lado, os extrovertidos se sentem subordinados a ele.

A atitude do artista, no entanto, poderá alternar sendo hora introvertida, hora extrovertida. E, desse modo, a forma de perceber o objeto artístico será diferente. Apesar de existir uma tendência dominante.

A paixão, segundo a Psicologia Analítica

O ímpeto criativo, quando se apodera do indivíduo, assemelha-se a uma essência dotada de vida. A psicologia analítica chama essa essência de Complexo Autônomo. Este atua como uma parte destacada da personalidade.

Um Complexo Autônomo engloba os desenvolvimentos psíquicos que, de início, eram inconscientes e se tornam conscientes. Não podem ser controlados, inibidos ou reproduzidos a nossa vontade.

Esse caráter independente se assemelha aos estados patológicos e distúrbios, mas no caso da arte não é um estado de adoecimento.

Segundo a Psicanálise

De acordo com Freud, as obras de arte estão apenas relacionadas à vida pessoal do artista. Seja por situações que ocorreram em sua vida familiar ou nos distúrbios que possa apresentar.

No processo de criação, existiriam conteúdos reprimidos. E a arte seria a expressão desses conflitos internos.

Essa percepção, ligada à Psicanálise, fez com que os historiadores de arte passassem a dar muita importância às vivências pessoais do artista. Condicionando causa e efeito.

Jung critica essa visão, pois seria transformar a arte em uma expressão dos estados de adoecimento. Afirma que existe a relação entre homem e obra de arte, mas um não explicaria o outro. Pois no momento criador,

Existem elementos irracionais que não são clarificados pela história de vida ou qualquer outro fator limitante.

 

A arte jamais será a expressão de patologias ou sintomas de um distúrbio. Ela não intensifica o que é nocivo, pois permite justamente uma reorganização criativa dos nossos problemas.

Ao mergulharmos por inteiro no processo criativo, a vida passa a ter um sentido maior e mais profundo. Porque somos capazes de oferecer algo realmente significativo para o mundo.

 

Fonte:

  • JUNG, C. G. Arquétipos e o inconsciente coletivo. 2ª edição. Petrópolis, 2002. Editora Vozes.
  • JUNG, C. G. O Espírito na Arte e na Ciência. Petrópolis, 1991. Editora Vozes.
  • JUNG, C. G. O Homem e seus símbolos. 4ª edição. Tradução de Maria Lúcia Pinho. Rio de Janeiro, 1967. Editora Nova Fronteira.

 

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