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O que é melhor para a saúde mental de uma pessoa: eletrochoques, lobotomia ou a prática de uma atividade artística?
A pergunta pode ser considerada chocante por alguns, mas há não tanto tempo atrás, práticas que hoje são consideradas como meios de tortura já foram empregados como maneiras supostamente eficientes para promover a cura.
Neste artigo apresentarei o trabalho de Nise da Silveira. Ela foi uma personalidade de grande importância no Brasil e no exterior por sua contribuição na mudança dos modos de pensar o auxílio terapêutico. Trouxe a possibilidade de cura e ressignificação através do desenho, pintura e modelagem.
Nise da Silveira
Nise ressaltou a importância de usar valores como respeito, afeto, liberdade e criatividade no tratamento em hospitais psiquiátricos.
Ela foi uma médica psiquiatra alagoana nascida em 1905. Nesse período, era comum usar meios agressivos como eletrochoques, drogas, lobotomia e injeções de insulina no tratamento psiquiátrico.
Os pacientes poderiam ser amarrados, forçados a ingerir substâncias indutoras de vômito, e toda sorte de situações que só aumentavam os sintomas. Desestabilizavam a mente e o emocional dos que se submetiam a esse modo de tratamento.
Nise, desde a época de estudante, se recusava a aceitar os tratamentos brutais que eram usados. Ela buscou, através de pesquisas, outras formas de auxílio que oferecessem um caminho de estabilidade e afetividade.
A não aceitação do que era considerado o melhor caminho, e a sugestão de uma terapia ocupacional com a criação de oficinas e ateliês de pintura, fizeram-na enfrentar muita resistência e descrédito por parte dos colegas de sua área.
Nise, porém, permaneceu forte no caminho que acreditava. Os embates não a fizeram mudar sua trajetória. Lutou, persistiu e conquistou respeito e admiração por seu trabalho.
O legado de Nise
Foi uma das primeiras mulheres a se formar em medicina durante década de 30. Lidou com o preconceito por atuar em um ambiente predominantemente masculino. Foi a única mulher em meio a mais de 150 colegas homens, durante seu curso.
Fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, para reunir as obras plásticas que os pacientes realizavam. E formou um centro de estudos e pesquisas.
As obras de seus pacientes começaram a chamar atenção de artistas e críticos de arte por sua força emocional, surgindo também a polêmica que atingiu os jornais da época. Discutiam se os trabalhos realizados teriam valor artístico ou se só seriam uma expressão do imaginário.
Nise, no entanto, evitava que as obras fossem julgadas esteticamente, porque a finalidade do processo artístico era exprimir a ruptura que abalasse um indivíduo. Assim como expressar a força de cura que existe em cada um, e não o resultado final, em termos estéticos.
As obras artísticas são imagens que surgem nos porões da mente, impregnadas pelo mundo dos sonhos. Pelo devaneio, pelo extraordinário, enriquecidas de simbologias e muitas vezes pela ideia do sagrado.
Nise encontrou no pensamento junguiano um meio de entender a produção artística de seus pacientes. Afirmava que a arte representava um auto retrato da situação interna e seria um modo de esvaziar imagens aterrorizantes que atormentassem um indivíduo.
Terapia ocupacional
Quando se fala em terapia ocupacional ainda se possui a visão de um passatempo.
A arte, todavia, permite uma forma de comunicação não verbal que abre possibilidades de expressão aos pacientes. Uma forma de compensação diante do caos que existe na consciência.
A arte é um caminho que proporciona auxílio e promove o retorno ao equilíbrio, seja para as pessoas consideradas sãs; seja para as que passaram por algum processo traumático e se recuperam; ou para aqueles que trazem alguma questão complexa a ser trabalhada durante toda a vida.
A arte traz estabilidade, é um meio de lidar com os sentimentos em um ambiente seguro, onde palavras não são necessárias. Contribui para uma vida mais rica de sentido, é transformação e superação. A arte contribui para uma vida plena.
FONTE:
JANSON, H. W. História Geral da Arte – O mundo Moderno. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007
JUNIOR, Eurípedes Gomes da Cruz – O MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE: das coleções da loucura aos desafios contemporâneos. Rio de Janeiro: UNIRIO/MAST, 2009
BARAÚNA, Mara L. 110 Anos da doutora Nise da Silveira – uma psiquiatra rebelde. 2015.
ARRAES, Lucas. Arte Bruta e Arte informal. Modalidades de Arte Contemporânea. 2013.
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