É preciso saber ver!

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Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura.

“Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões e é uma alegria!

Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas.

Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola.

Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”

Neste pequeno trecho da crônica de Rubem Alves, ele descreve a complicada arte de ‘’ver’’. Ato não natural e que precisa sim ser aprendido.

Conteúdo

Enxergar é perceber além

Você já parou para analisar se aquilo que está diante do seu olhar é verdadeiramente o que se vê? Sem dúvida enxergar é perceber além, conforme a realidade de cada um, com foco e com paciência.
O artista possui este poder no olhar. A curiosidade e a sensibilidade para transmitir aquilo que a sua percepção capta.

Qualquer pessoa pode conseguir uma visão mais direta e objetiva ao se dedicar ao desenho. Pois, neste momento, o cérebro permanece suspenso em termos de julgamento. Permite ao observador ver de um modo integral e completo, e faz com que algumas pessoas expressem esse sentimento por meio de frases: “Estou vendo o que antes não via!”

Desenhando com o lado direito do cérebro

A autora Betty Edwards, no livro “Desenhando com o lado direito do cérebro”, defende que a prática do desenho pode ser aprendida por qualquer pessoa “normal” com visão e coordenação motora mediana.

Segundo ela, qualquer pessoa que escreva legivelmente tem toda habilidade Authentic Adrian Amos Jersey manual para aprender a desenhar.

Porém, a habilidade manual não é fator primordial para conseguir desenhar, e sim outra habilidade que precisa ser aprimorada, que é a visão. O aprender a enxergar as coisas da maneira especial.

Segundo Betty, o cérebro participa ativamente na percepção visual dos objetos mediante a observação. No entanto, essa observação é deformada pelo ponto de vista do observador, em razão das experiências por ele vivenciadas.

Por algum motivo, há uma tendência a ver o que se quer ver. Isto é, o próprio cérebro altera essa informação sem uma participação consciente do observador. Assim, aprender a ver e perceber através do desenho altera este processo e permite uma visão mais direta e objetiva.

Betty explica que, ao desenhar, a pessoa utilizará uma parte do cérebro que é quase sempre ofuscada pelos detalhes do cotidiano. E então passará a desenvolver uma capacidade de percepção mais aguçada. Sob uma nova ótica, onde poderá enxergar novas possibilidades em tudo a sua volta.

cerebro

Como funciona o cérebro

Essa nova maneira de raciocinar e utilizar o cérebro dará acesso então a novas soluções criativas para os problemas, sejam eles quais forem. E você sabe como o cérebro funciona?

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Visto de cima, o cérebro humano lembra as duas metades de uma noz, duas metades aparentemente semelhantes. São chamadas de hemisfério esquerdo e hemisfério direito, ligados por um feixe conector chamado de corpo caloso.

Os dois hemisférios são capazes de trabalhar em conjunto de várias maneiras. Algumas vezes cooperando um com o outro, contribuindo com suas aptidões especiais. E assumindo aquela determinada parte da tarefa mais adaptada à sua modalidade de processar informações.

Outras vezes, os hemisférios podem funcionar separadamente, com uma das metades agindo mais ou menos como “líder”. E a outra mais ou menos como “seguidora”.

E ao que parece as duas metades podem também entrar em conflito: uma delas tenta fazer aquilo que a outra “sabe” ser mais capacitado para fazer.

A função dos hemisférios

Além disso, talvez cada hemisfério tenha uma maneira de manter certos conhecimentos fora do alcance do outro.

As pesquisas sobre as funções dos hemisférios do cérebro humano relativas à percepção visual indicam que a aptidão para o desenho pode depender do fato de uma pessoa ter ou não acesso consciente à modalidade direita “secundária” ou subdominante.

Aparentemente, o hemisfério direito percebe e processa informações para podermos desenhar. Enquanto o hemisfério esquerdo percebe de uma forma que parece interferir negativamente no ato de desenhar.

Uma vez que o ato de desenhar é uma função do hemisfério direito, é preciso então impedir que o hemisfério esquerdo interfira na tarefa. Portanto, para desenhar um objeto observado, é preciso uma mudança mental para a modalidade cerebral especializada para executar a tarefa de percepção visual.

E é o hemisfério direito o mais apropriado para este fim. É a modalidade do artista onde não é necessário pensar, e sim intuir e sentir.

É preciso saber ver: algumas dicas

Se for necessário usar palavras para pensar, faça a si mesmo perguntas espaciais, relacionais e comparativas. Elas são típicas da modalidade direita como, por exemplo:

  • Onde começa essa curva?
  • Qual o ângulo em relação à margem do papel?
  • Que comprimento tem essa linha em relação a esta que acabo de desenhar?

Assim você não estará nomeando partes e nem fazendo qualquer tipo de declarações ou conclusões.

Estimulando o lado direito do cérebro

Segundo os estudos de Betty Edwards, é possível estimular o lado direito do cérebro e inibir o lado esquerdo com alguns exercícios simples. Esse estímulo libera a nossa percepção de forma que passamos a “ver” as coisas com outros olhos.

  • Por exemplo: quando o que está diante de nossos olhos fica numa orientação não familiar (ex.: de cabeça para baixo), os processos costumeiros de reconhecimento e atribuição de nome se desaceleram e são dificultados. Até o lado esquerdo do cérebro desistir de tentar nomear e categorizar.

Logo, as partes não nomeadas se tornam interessantes por si só, assim como as relações entre as partes. O desenho de cabeça para baixo força uma mudança que afasta o lado esquerdo nomeador, classificador, do cérebro, aproximando-se do lado direito, visual perceptivo, que é o lado apropriado para o desenho.

É como se o lado esquerdo, quando forçado a olhar algo que está de ponta-cabeça dissesse, efetivamente:

“Ouça bem, eu não faço coisas de cabeça para baixo, gosto que as coisas estejam do modo como elas sempre estão, para que eu saiba o que estou olhando. Se você vai olhar as coisas de ponta-cabeça, não conte comigo!”

Para desenhar, é exatamente isso o que queremos!

Um dos segredos para o desenho realista é exatamente essa visão mais apurada, adquirida através da observação dos detalhes, como formas, manchas, tonalidades, luz, sombra. E quanto mais informações percebidas, mais realista ficará o trabalho.

Espaço negativo

Outro ponto importante a ser levado em consideração é o espaço negativo. Todo motivo tem formas positivas e negativas.

Saber reconhecê-las e usá-las de maneira criativa facilita o trabalho e permite um aprimoramento da composição, tanto de um esboço como de um desenho acabado. Na verdade, as formas negativas são tão importantes para a qualidade do seu trabalho quanto às positivas, e você deve dedicar-lhes o mesmo planejamento, cuidado e atenção.

É importante lembrar que os dois tipos de formas são determinados pela ênfase que você lhes dá; isso pode ser constatado na figura abaixo:

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O nome dessa figura é vaso/rostos, dependendo do seu ponto de vista quem é a figura ou o fundo? Se observarmos os rostos o vaso será o fundo, todavia se você observar o vaso os rostos serão o fundo. Logo, de acordo com a atenção que você dispensar as formas elas se encaixam como em um quebra-cabeças.

Os dois são imprescindíveis para o desenho e está intrinsecamente ligada também a “arte de ver”. Como exercício, tente desenhar as formas negativas em torno de um motivo simples. Se você trabalhar com uma observação cuidadosa, chegará à forma positiva do motivo, definida pelas formas negativas que o rodeiam.

Mesmo ao desenhar “normalmente”, à medida que for registrando a forma positiva de um motivo, procure estar ciente também do espaço negativo que o rodeia. Isto tornará seu traço mais preciso.

O lado esquerdo olha o todo e erra. O lado direito observa os detalhes e os percebe.

Portanto não tenha pressa, observe, veja de forma diferente, foque nos detalhes e transmita aquilo que nem todos conseguem ver.
O Princípio para aprender a enxergar, ver com um artista vê, é sempre duvidar do que seus olhos veem.

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